sábado, 2 de abril de 2011

O suicídio da Vida

Penso que viver, por si só, já é um ato suicida.
Nascemos prontos. Ali, pequenos seres. Inocentes.. Verdadeiros..
Sem conhecimento científico, sem juízo de valores materiais, de regras éticas e morais.
Sem pretensões de vitórias, sem necessidades a não ser aquelas que decorrem da nossa própria natureza.
Dependentes, sim. Mas não vazios!
Completos em nós mesmos.
Porque sorrimos ao mundo que está ao nosso redor, independente de qualquer provocação, de qualquer motivo. Sorrimos sem saber se é ou não apropriado. O nosso sorriso posto cabe em qualquer lugar, em qualquer hora.
Somos livres e permitidos. Vivendo em paz... uma paz que se preenche em nossa própria existência.
Pacientes em nós mesmos...
Porque sabiamente choramos para alcançar aquilo que queremos, não um choro de desespero, mas voluntário, calculado a atender nossa própria urgência.
Daí vem o tempo... e com ele o crescimento! Vem a vida!
Não aquela vida de antes. Pura e Inocente.
Mas uma vida avassaladora, repleta de sonhos, de vontades criadas fora de nós e que destroem e atropelam nossa essência.
Dos brinquedos e brincadeiras partimos a querer roupas, viagens, festas... Queremos estudos, profissão, sucesso, dinheiro... Queremos amizades, romances.
Ora, já não nos bastamos a nós mesmos! Precisamos dos outros, precisamos do outro.
Nos acostumamos a ser dependentes de tudo, com a certeza que somente existimos enquanto coexistimos. E nossa estrada passa necessariamente a ter que ser cruzada por outras várias. Não sabemos mais caminhar sozinhos. A nossa existência somente se perfaz “pra fora”  e todo olhar ao nosso íntimo é carregado de dúvidas e angústias externas.
“Por quês”? “Quandos”? “Comos”?
Não mais nos contentamos com nossa situação. Passamos a ser naturalmente insatisfeitos. Querendo tudo o que não possuímos e nada do que já temos.
Tudo se inverte! Não conseguimos mais ser felizes por uma hora seguida. Tem sempre um estresse, uma decepção, uma má-vontade, um desgaste.
Não acordamos mais sem continuar a sentir sono. Temos preguiça do passar do dia, sempre a espera da hora seguinte.
Não temos mais a sabedoria da paciência e a virtude da resignação.
Deixamos de ser completos e passamos a ser solitários, carentes. Pessoas em busca incessante por algo que nem sabem exatamente o que é, pois o objeto da procura muda a cada esquina. 
Somos indeterminados e inconstantes.
Não é que sejamos infelizes.. mas, somos felizes por uma felicidade não autêntica. Falha e reversível a qualquer obstáculo.
Desesperamos com o leite derramado, com a demora da chegada, com o último dia para a entrega. Somos desconfiados da nossa própria sorte e toda confiança que nos resta depositamos sempre nas mãos dos outros.
Daí vêm as nossas angústias, nossas tristezas, nossas amarguras, nossas decepções e fraquezas. Vamos nos ferindo a cada dia mais. Guardando mágoas, rancores, traumas, medos que parecem ser a única coisa que sabemos somar.
Os momentos de alegria e as vitórias não nos bastam... Até quando mais otimistas questionamos e nos preocupamos com a chance mesmo ínfima de dar tudo errado.
Não temos mais um mundo para nós... passamos a integrar um mundo dividido.
Vamos nos destruindo e morrendo pouco a pouco.
Deixamos de ser aquela criança completa, paciente e satisfeita.
Nós tornamos adultos ignorantes, insatisfeitos e constantemente inexperientes.
Deixamos de viver dentro de nós ..  a busca pela existência se torna externa.
Passamos a nós matar em nós mesmos!

Paulo Henrique Silva Almeida
-PHA-

6 comentários:

  1. Muito bom
    Parabéns.... Seu sucesso é o meu sucesso....

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  2. Q texto heem!
    Muitoo boom!
    http://farofanordestina.blogspot.com/

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  3. Muito legal...

    http://elgoogbrasil.blogspot.com/

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  4. Textoo liindoo.adoro texto assim *-*

    seguiindo viu! segue la tb

    http://adogomakes.blogspot.com/

    beijoos

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  5. E depois diz a mim que queria escrever como eu, acho q os papeis se inverteram... Lindo texto! Muito sucesso nesse blog, tenho certeza q vai dar o que falar aqui... e que venham as confissões!

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  6. Bem, é profundo como Clarice Lispector, poético como Drummond e real como Exupery mas o melhor é que tem a originalidade de P.H.S...

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