segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Traumas, eu sobrevivi !



E eu que um dia quis morrer, pelo simples fato de estar vivo.
Sentindo toda a dor que me feria o peito.
Vivendo de traumas, que os via refletidos em minha imagem no espelho.
Identificando-os dentro dos meus olhos, a explodir em lágrimas.
Sei que ainda estão aqui.
Perdidos em meu estômago, ainda que hoje eu não os sinta revirar em cólicas.
Não me ferem mais com suas pontadas. Nem me tiram o apetite com o amargo gosto de suas cinzas.
Chegaram e não partiram. Restaram em mim.
E embora eu não possa expulsá-los, não preciso vivê-los.
Melhor deixá-los, livres de mim.
Expostos a uma cicatrização que sei que nunca será completa, mas que enquanto sangra, me faz sentir vivo.
E eu que sofri. Temi. Quis morrer.
Hoje quero o sol e lua, substituindo-se em seu ciclo perfeito. Quero amanhecer em todos os dias.
Quero correr o caminho que me restou.
Subir os degraus que ainda não alcancei.
Não pude chegar até aqui sem vocês. Seria perfeito sem a dor que me causaram. Mas é ainda mais perfeita a alegria de sorrir de novo.
Ah, traumas. Não me causam mais.
Seus efeitos foram vencidos.
Derrotei-os, um a um. Apagando o fogo que queimavam em meu sossego e no meu coração.
E ainda que em mim restem, não mais me dominam. São apenas os restos de uma dor já vivida, passada.
Venceram sim, pois me roubaram dias.
Mas, hoje nada mais são que o cenário de uma guerra acabada. Frio e sem vida. Inofensivo a mim.
Decidi, por livre escolha, não mais pertencer a vocês.
Vocês que apenas são a marca de um momento mal sucedido. De uma agressão a minha alma.
De um soco profundo em meu querer.
São rastros da minha decepção e do meu desespero.  Da agonia desmedida do meu temor.
São velas queimadas pela chama acessa com minha tristeza. Formas em cera do meu pavor.
Decidi que não os quero. Que não me submeto.
É chegado o momento de abandonar esse velho abrigo. Sair debaixo do meu telhado cheio de buracos de sofrimento. E detrás das minhas janelas de vidros estraçalhados de dor.
Sair às ruas. Sentir o chão. Ganhar um mundo, só para mim.
Decidi não viver de dor.
Decidi não sofrer de efeitos de fatos que já foram, ficaram para trás.
São isso os traumas. Meros efeitos. Reprodução que fiz para reviver algo que somente foi.
Doeu, machucou, marcou. Mas somente existe na minha memória.
Cessou. Não veio comigo. Fui eu que o eternizei, com seus efeitos.
Hoje não mais. Decidi!
E eu que um dia quis morrer, pelo simples fato de estar vivo.
Somente quero sentir-me livre.
Quero saber que vocês aconteceram. Reconhecer que foram reais. E que até ainda existem.
Mas quero dizer, com sorriso nos lábios, brilho nos olhos e paz no coração:
- Traumas, danem-se! Eu sobrevivi.


                                                                                                                      
Paulo Henrique Silva Almeida
-PHA-