sexta-feira, 22 de abril de 2011

Confissões à Deus

Querido Deus, estou com medo.
Tenho medo dos filhos teus.
Medo das pessoas que abandonam pessoas, por qualquer motivo, qualquer detalhe.
Pessoas que não se compreendem, que se julgam reciprocamente, numa disputa tola de auto preservação.
Temo às pessoas que se eliminam. Afastam-se. Ignoram-se. Que não se buscam, não voltam atrás.
Eu não as entendo.
Não entendo o porquê do apego exacerbado às pequenas diferenças. Como um mínimo de desentendimento pode acabar com toda uma história a dois, uma harmonia de vida comum.
Será que elas não conseguem enxergar que o desacerto e o engano são comuns, mas que isso não muda o caráter de uma pessoa. São erros inerentes à própria condição da vida, e são toleráveis, perdoáveis. Passam...
As pessoas preferem a discórdia, a disputa e a boa briga. E assim apenas se perdem, em si mesmas, e umas das outras.
Querido Deus, será que elas não compreendem que seriam muito mais felizes se soubessem aceitarem-se reciprocamente?
Que haveria maior felicidade se após a cada briga e decepção elas olhassem o outro como um todo, e no lugar de julgamentos  pelo atos  infelizes, elas se buscassem com a graça do melhor olhar que trocaram em admiração?
Por que não se buscam no melhor de cada uma, mas preferem tripudiar sobre um momento desafortunado, um ato controverso, um deslize qualquer?
Eu temo as pessoas que abrem facilmente mão uma das outras. E se jogam numa rotatividade de inúmeras relações, substituindo a outra no primeiro momento de decepção.
Por que não preferem se abrir ao perdão?
Elas deveriam encarar que pessoas são pacotes, inteiros, completos, e que amar alguém significa aceitar essa pessoa em seu todo, pois é aquilo que ela é. Não da pra mudar a cor da pele, a religião, os vícios, a sexualidade, a opinião politica. As pessoas estão condicionadas a ser aquilo que elas são, e estão prontos a serem amadas assim.
Mas essas pessoas não se abraçam, não se acolhem. Preferem se repelir por qualquer desagrado que encontram.
Buscam uma perfeição que não existe, pois o máximo que podem conseguir é um alto nível de adaptação que apenas se ganha com um tempo considerável de convivência pautada no respeito e na compreensão.
A verdade é que cada uma delas é perfeita dentro do seu próprio limite. E se uma magoa a outra, é apenas porque ela não poderia ter feito melhor naquele momento.
Eu temo as pessoas que se odeiam, que preferem trocar ofensas a distribuir sorrisos.
Pessoas que apagam as outras de seus caminhos, como se não houvesse tido, apesar da mágoa, nenhuma espécie de contribuição, de crescimento, de compartilhamento.
Pessoas que se esquecem, que não se somam. Que se repudiam.
Querido Deus, elas não compreendem. Se condicionaram a viver uma vida limitada, imediatista, como se o caminho da vida nos levasse unicamente para a morte.
Não, Deus. Não nascemos para morrer, ou simplesmente viver. Nascemos para agregar ao mundo e nele obter acréscimos.
Mas não compreendemos isso.
Esquecemos o valor do sorriso e do abraço. Esquecemos do amor eterno, que é sempre possível, mas deixamos de amar as pessoas simplesmente pela mudança da condição no espaço que elas ocupam em nossa vida.
Deixamos de pensar no bem para o outro somente porque acabou o namoro, a amizade, a convivência.
Acostumamos a amar as pessoas pelo lugar que elas estão em nossa vida, e não pelo que elas realmente são. E ai, o amor se quebra a toda hora, a todo momento.
Todo amor deveria ser eterno, porque as pessoas amadas são eternas, mesmo após a morte, deixam suas lembranças.
Mas a eternidade do amor não persiste, porque não amamos as pessoas em si mesmas, amamos seus reflexos, a materialidade de seus atos. Não amamos o que elas são, e sim o que elas exteriorizam.
E daí, basta um pequeno deslize, um pequeno erro, que o amor se perde.
Deus meu, não compreendemos nada.
Temo as pessoas porque elas não se preservam. E hoje somos amantes, mas amanha seremos inimigos.
Eu temo. 

Paulo Henrique Silva Almeida
-PHA-

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "As pessoas preferem a discórdia, a disputa e a boa briga. E assim apenas se perdem, em si mesmas, e umas das outras."

    vc esta cada vez melhor com as palavras
    abç

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  3. Oi Paulo,

    Tudo bem? Estava com saudade dos seus escritos. Concordo com o seu texto e os meus pedidos a Deus caminham por ai.
    O que é simples, se faz complexo porque complicamos.

    Beijos.

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